Abuso Infantil
- Yolanda Minguez de Juan
- 16 de jul. de 2013
- 2 min de leitura
“A criança que sofre vitimização, além de apresentar sentimentos de ódio, repulsa, resistência e nojo, revela sentimentos de medo e impotência que a impedem de resistir e evitar a vitimização e a revitimização. Esses sentimentos, contraditórios levam-na à submissão ao poder e ao desejo do outro, além do esquecimento de si mesma”(Dalka et al, 2002).
É alarmantemente comum, o alto índice de abusos sexuais infantis na nossa sociedade, geralmente ocorrem no âmbito intra-familiar, ou seja, entre membros da mesma família ou pessoas muito próximas à vitima, assim, “o silêncio” se faz presente por conta desta questão. Admitir que algo tão dilacerante ocorreu de fato, torna-se motivo de vergonha, é por isso que nada é contado, tentando omitir o fato por medo a serem julgados (os cuidadores).
A criança, por outro lado, dependendo da idade e da qualidade do vinculo com seus cuidadores opta por recorrer aos seus cuidadores, geralmente a mãe, tia, avó mas muitas vezes por medo de uma nova agressão ela cala. Quando a criança recorre à denúncia, é frequente que seu cuidador duvide da veracidade da confissão, principalmente quando o agressor é alguém muito querido ou parceiro do cuidador. Acreditar na criança, quando acusa algum membro da família é admitir que aquela pessoa que parecia ser de extrema confiança conseguiu enganar a todos, é admitir sermos enganados e envolve uma geração de conflitos internos, relacionados com o próprio Ego.
Existe uma tendência em acreditar, que o que a criança fala, não tem veracidade, tende-se a pensar que é coisa de criança, tirando-lhe a importância que merece, ou tende-se a pensar que o que está dizendo, o faz, por que sente ciúme da pessoa acusada, ou para chamar a atenção, etc…
Como se a criança tivesse uma natureza malvada e conseguisse inventar algo, para se vingar do outro…Mas vamos pensar com calma, será mesmo que criança é capaz de semelhante crueldade? Tem crianças mais levadas que outras, más nunca pode se subestimar o discurso de uma criança quando vem te contar que fulano a violentou. No mínimo, deve se tomar alguma providencia, começar se interessando pela confissão e tentar entender porque a criança venho acusar de que alguém está machucando ela…Não simplesmente dizer que está mentindo e parar de falar essas “coisas feias”. O tabu envolta de atos sexualizados em crianças, também ajuda a este tipo de comportamento do adulto.

As crianças que não elaboram de maneira saudável esse tipo de agressões tendem a internalizar o conflito e desenvolvem-se em prol desse momento. Surgem de aí, mecanismos de identificação com aquele que a vitimizou. Não podendo reagir ou sentir ódio, e vivendo um “complô do silêncio”, a criança não tem a oportunidade de compreender ou questionar o que vivencia.
Ainda, no decorrer do processo de vitimização são transmitidas mensagens de que aquele que está sofrendo a vitimização “é merecedor de castigos”, (inclusive atos violentos), “não é merecedor de afeto”, só tem valor na medida em que é útil e objeto de outrem”. Cria-se assim uma auto-imagem que pode ser traduzida como: “sou uma pessoa sem valor”, “sou uma pessoa má”, entre outras. Tais mensagens também estarão interferindo na formação de identidade e embasarão o desempenho de papeis de cuidadores e protetores na vida adulta.
Artigo escrito por:
Yolanda Minguez de Juan
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