O Poder do Consumo Sobre a Nossa Existência

Vivemos numa sociedade que caminha ao ritmo ditado pelas tendências da moda, onde a liberdade de expressão e o livre arbítrio é prontamente erradicado antes mesmo até de percebermos sua falta. Na nossa sociedade que vive marcada pelo frenesi, a pressa, onde o tempo esta sempre em falta, traz consigo uma sensação de insatisfação e junto dela a sensação de incompletude.

A falta de tempo, exigências na labor e as responsabilidades recaem sobre nosso papel social que determina não somente quem somos mas até como devemos nos comportar para sermos aceitos socialmente. Essa pressão, resulta muitas vezes em problemas de saúde, crises de ansiedade, transtornos de pânico, estresse e as inúmeras neurósis e que parecem estar tão presentes na atualidade.

Essa sensação de estarmos sendo limitados, amarrados, empurrados, não é a toa, não é imaginação, e não, não estamos enlouquecendo, ela existe, só que ela não se apresenta clara e diretamente ante nós, muitas vezes ela está nas entrelinhas.

Nosso medo ante a morte iminente, ao não conseguir sair ileso e triunfante nesta sociedade exigente, faz nos debruçar e deixamos que essa força imposta nos guie, nos diga o que é melhor para nós, ela tira proveito daquele que esta perdido. Por que realmente é o que tudo indica, estamos perdidos.

Para testar minha tese ocorreu-me uma ideia, aparentemente nada complicada e para apresentar-lhes aqui um exemplo mundano e prático vou falar do fenômeno citado acima.

Saí à procura de uma calça, geralmente procuro por calças que se adaptem ao meu biotipo, então escolhi o de formato reto e alto de cintura. Bom, esse dia virou uma tremenda dor de cabeça, depois de visitar todas lojas femininas do centro comercial e de muitas frustrações, percebi que eu estaria procurando por um item em extinção. Aquilo não foi um passeio às compras e sim uma missão impossível.

O que podemos apreender com este exemplo, é fácil de entender e traduz na prática como funciona o consumo em nossa sociedade e explica o texto elaborado acima. 

Porque uma calça tamanho 44 de corte reto e cintura alta foi anulada das lojas? A resposta é simples mas preocupante, não está na moda, e não é somente a calça que não está em alta, mas o biotipo das pessoas que vestem esse tipo de calças, também não.

Com o discurso da boa forma, as academias vivem recebendo inscrições, porém poucos frequentadores, vamos combinar que as pessoas até planejam frequentarem a academia, fazem promesas e procuram motivações para serem perseverantes no que se diz o culto ao corpo, mas a maioria não consegue manter esse ritmo, afinal, essa é mais uma exigência social do que uma questão de saúde. Pois procura-se por um corpo sarado, barriga negativa e essas outras missões suicidas, então, a maioria desiste quando caem na real, trabalham tanto que não tem energia para ir fazer uma maratona na academia e quem consegue é porque tem tempo, saúde e dinheiro para se empanturrar a complexos vitamínicos e aceleradores, a maioria deles tem menos de 30, sem filhos e poucas exigências.

Bom, aí temos sem ir muito longe, vários discursos que promovem o fato de não ter encontrado aquela calça 44 tipo reto de cintura alta.

Eu o convido a testar minha tese, faça seu próprio teste, saia à procura de algum item que goste e que não está na moda.

O discurso social exige das pessoas inúmeras coisas, além de ser belo, ter uma aparência saudável, ser bem sucedido, ter vários cursos superiores, dinheiro e bom gosto, ter filhos e ser pai exemplar…. mais essa, para você não ser excluído é melhor usar um tamanho abaixo do 42 até porque você corre o risco de não se encaixar no ideal,e que vem sendo imposto por essa mesma sociedade que abriu mão do seu potencial e poder de decisão. Porque decidir não é tarefa fácil, decidir requer assumir riscos, tomar decisões que implicam responsabilidades.

Quem dita a moda? As necessidades das pessoas ou a indústria? Porque para poder me vestir tenho que perder peso e me sacrificar? Porque não é a moda que se adapta a minhas necessidades?

Essa sociedade deixou de defender pelo que é de direito, abriu mão da responsabilidade de escolher e exigir o que ela quer. E afinal, o que você quer? Ou você prefere que eu escolha por você?

*Curiosidade: Esse fenômeno é genuíno do Brasil, na Europa nos USA você encontra qualquer tipo de calça facilmente independente do que “está na moda”.

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