Perfil do Adulto Que Sofreu Abuso de Criança
- Yolanda Minguez de Juan
- 20 de ago. de 2013
- 4 min de leitura
O adulto que quando criança foi submetido algum tipo de abuso, costuma assumir dois papeis ambivalêntes que vão se intercalando ao longo da vida em relação ao momento vivenciado, a maturidade e aos tipos de relações interpessoais. Estes papeis se caraterizam principalmente pelo transito entre o Vitimizador/Vitima. Tendem a apresentar um perfil peculiar, muitos deles tornan-se pessoas que vivem em função dos outros e se prontificam para cuidar e se responsabilizar por estes, mesmo sem terem condições psicológicas nem econômicas para isso, acreditam que essa seja sua função primeira e prioritária na vida. Outras costumam ter relacionamentos conflituosos, tornando-se muito difícil terem uma relação intima estável. No geral, podem se sentir merecedoras do sofrimento e se auto impõem responsabilidades, mesmo que, nem a elas pertençam. Sentem-se de alguma forma culpáveis pelo seu passado e em seu comportamento, repetem sem advertir o movimento de vitimização, iniciado por seu principal agressor, aquele que abusou quando a vitima ainda era criança.

É bastante comum procurar por psicoterapia nos momentos onde a depressão domina suas vidas, principalmente no início da vida adulta, esta fase, existencialmente falando, traz muitas mudanças, entre elas, novas responsabilidades, a necessidade de ter um parceiro e uma relação estável, filhos pequenos, o inicio de uma carreira promissora, etc..

Adultos com histórico de maus tratos e violência infantil, costumam serem extremamente serviçais e fazem questão de se ocupar das pessoas do seu entorno, se colocam sempre no último lugar, até mesmo, se esquecem delas mesmas e se desdobram para mostrar que são pessoas extremamente boas, não necessariamente são de fato assim, mas singularmente elas se sentem pessoas que se sacrificam pelo bem dos outros. Esse comportamento peculiar costuma ser banalizado pelas pessoas que a rodeiam, já que seu comportamento de cuidador e de submissão convida ao outro a ocupar naturalmente o lugar de autoridade, permitindo e por vezes exigindo, que a pessoa continue a manter o lugar de responsabilização e submissão. Assim, o processo vitimizador se dá de maneira dialética em relação ao outro, de maneira inadvertida por todos.
Esse é o “perfil” da vítima/vitimizadora e adotam essa forma singular de se relacionar com o mundo e com as pessoas, costumam ser no geral desconfiadas e extremamente sensibilizadas quando por algum motivo captam nas pessoas algum indício, que as leve a pensar que não são merecedoras da sua confiança e isto acontece muito frequentemente. Isso se deve, principalmente na identificação do perfil do “Vitimizador” aquele que pode representar uma ameaça real ou imaginária à integridade da vítima, no caso a ela mesma. Sente-se vítima e tende a entender, raciocinar e atuar dentro desse “clichê”, mesmo sem aperceber-se, (quando não tem consciência dela mesma). Quando não há de fato alguém que preencha esse perfil simbólico, que ocuparia o lugar do Vitimizador, tende a provocar nela mesma e de maneira automática, uma espécie de auto-sabotagem, provocando angústias e mal-estares que pode desencadear sintomas ainda mais desagradáveis e que a fazem se manter dentro desse lugar de vítima. Estes lugares que ocupa, acontecem de maneira dinâmica: de vítima para vitimizadora e vice-versa, e como não se apercebe, não consegue então fazer nada para aturar a roda que é girada com a força do medo que aquela primeira situação desencadeou, criando assim um círculo vicioso e devastador para a pessoa afetada. Cabe lembrar aqui, que a pessoa não costuma perceber que ela tende a assumir este lugar de vitima/vitimizador, então não haveria motivo para se pensar que, a pessoa esta intencionalmente “fingindo de coitada”para ser socorrida pelos outros.
Quando não elaborado, o adulto que foi abusado quando criança, entra em angústia e percebe que algo há de errado. A principio acusa as pessoas de se aproveitarem da bondade dela, começando a desconfiar da boa fé das pessoas, que em realidade são malvadas e mau intencionadas. O principal sintoma é de pessimismo e impotência, de que nada que ela faz dará certo na vida dela, pois todo mundo quer interferir na felicidade, etc…Assim começa apresentar suas angústias sem saber bem como localizar a origem do verdadeiro mal-estar, aqueles sentimentos que foram deixados de lado e nenhum sentido ganharam, pois na época do acontecimento nada foi trabalhado e/ou elaborado nem mesmo compartilhado.

Muitos convivem com os sintomas dessa repressão, sem mesmo desconfiar o que há de errado com elas mesmas, outras conseguem perceber e procuram por ajuda psicológica, outras nem mesmo lembram dos fatos ou nunca contaram por medo e vergonha, e com o passar do tempo, a angústia aparece de maneira devastadora, afetando a pessoa com intensidade, manifestando-se por meio de depressões e outros sintomas, como transtorno do pânico, fobias, entre outros…
A psicoterapia direcionada para este tipo de sintomas, consiste num atendimento para promover a auto-percepção nos diferentes papeis que a pessoa estabelece, cabe grande esforço por parte do psicoterapeuta em se perceber em relação ao tipo de paciente, em seus diferentes momentos e situações ao longo do processo psicoterapêutico.
DICA: Leia o post anterior sobre Abuso Infantil que está relacionado a este Post.
Artigo escrito por:
Yolanda Minguez de Juan
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