Sobre as doenças da mente e os doentes mentais
- Yolanda Minguez de Juan
- 17 de jun. de 2014
- 2 min de leitura
A maioria dos casos que tenho estudado e acompanhado psicoterapeuticamente, tem fatores peculiares e particulares em cada demanda, mas é muito comum encontrar similitudes e que não podemos erradicar na hora de uma avaliação, pois são questões, muitas vezes tão importantes para o tratamento e cura do quadro, quanto o conhecimento dos próprios e assustadores sintomas.
Entendemos a doença como estado de sofrimento psíquico, físico e/ou orgânico, condição incapacitante de mal-estar geral, e que sob uma leitura como o da medicina, uma vez reconhecidos os sintomas passasse a identificar a doença. O nome de dita doença, encontra-se classificado (quando não é um quadro desconhecido ou raro), genericamente num livro de referencia médica. A partir de aí, o medico recorre a sua experiência no tratamento da doença ou procura em bibliografia e receita x,y,z remédios para aquietar os sintomas e finalmente tentar a cura da doença.
Na psicologia, abordamos os sintomas de maneira distinta, graças a psiquiatria temos referenciados múltiplos quadros, com seus principais sintomas, intensidades, frequências e natureza devidamente homologadas, quando acha-se necessário recorremos a estas fontes para podermos identificar sobre o que estaríamos trabalhando.
Em nossa análise, pelo menos quando olhamos sob um ponto de vista existencialista, tentamos ver além e aquém daquilo que aparece descrito pelas referencias médicas, avaliamos a dinâmica da pessoa, como compreende o mundo e faz para existir, como se relaciona com os outros.
Uma quantidade significativa de pessoas que chegam no consultório, trazem de maneira inebriada os impasses daquele que sofre por uma condição imposta e frequentemente até pela própria família e/ou conhecidos, que somente reconhecem o sujeito pelos sintomas, me explico…
São muitas as queixas provindas de quadros neuróticos e até mais graves, aqueles de base patológica (neurológica, orgânica, psíquica…) que implica em algo a mais do que os próprios sintomas ou elaborações inadequadas, experiências traumáticas, doenças….etc. Isto tudo, compreende o que vai além da doença psicológica em si.
Como os outros nos vêm, como os outros nos entendem, nos tratam, destratam ou maltratam, em fim, nos avaliam, diz muito e influencia potencialmente na qualidade da relação com o mundo e a evolução, estagnação ou eliminação dos sintomas. A capacidade de observação e análise de como sentimos ou acreditamos sentirmos, do que sermos, nos aproxima do conceito de saúde. Nos aperceber e compreender como isto funciona, provoca uma reviravolta na anterior condição de doença. Digo anterior pois trata-se de uma condição reversível, porque a maior parte dos sintomas tem origem nas relações do eu consigo mesmo, do eu com os outros e com o mundo.

Um exemplo de fácil compreensão: Ser olhado apenas como incapaz, desde sempre, seja pelo motivo que for, pela doença, pai mãe com tendência superprotetora ou porque é considerado feio pelos colegas da escola, sofreu bulling…
Não leva somente a pessoa acreditar naquilo como se lhe fosse legítimo, mas que a ideia fica tão impregnada na pessoa que ela passa a agir sob esta condição, tendo-o assim como determinante influente e sob o qual a pessoa irá se basear durante a formação do próprio pensamento o que pode levá-la facilmente a desenvolver questões tão sérias como aquelas descritas nos livros de medicina.
A maioria das doenças da psique são condições multi-fatoriais, uma delas é tão influente quanto as características neurofisiológicas. São como nos relacionamos com o mundo, como somos vistos e como nos vemos, e termos ciência sobre isto é saber sobre nossa própria saúde.
É por isso que a psicoterapia se adentrou no âmbito da saúde, é ali onde ela trabalha. Seu lugar esta entre a limitação unilateral da medicina e a necessidade da condição social do homem. O olhar da psicologia, detém o saber da inter-relação entre a saúde a doença e a condição existencial.

Yolanda Minguez Juan
Psicóloga clínica
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